Instituto Henriqueta Teixeira

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Artigo

22.04.03

CORRENTE RUSSA

"Fábio dos Santos Borges HISTÓRICO As primeiras citações sobre corrente russa aconteceram em 1980, quando os astronautas da estação orbital soviética MIR utilizaram uma forma de corrente de média freqüência para estimular a musculatura que ficava hipotônica/hipotrófica por causa da ausência de força da gravidade. Em 1982, as atletas de ginástica olímpica da equipe soviética utilizaram a corrente russa dias antes das provas para aumentar a força muscular. DEFINIÇÃO É uma corrente alternada (sinusoidal) de média freqüência (2500Hz), que pode ser modulada por rajadas (50Hz = 50 rajadas por segundo e é utilizada com fins excitomotores. Esse tipo de corrente permite aplicação de alta amperagem, em torno de 100mA. PROPRIEDADES HISTOLÓGICAS, HISTOQUÍMICAS E FISIOLÓGICAS DA MUSCULATURA As fibras musculares foram classificadas de acordo com sua constituição e os grupos musculares, em sua maioria, como mistos, ou seja, compostos de mais de um tipo de fibra muscular. PROPRIEDADES DAS UNIDADES MOTORAS TÔNICAS E FÁSICAS A) Tônicas - Fibras vermelhas - Inervadas por fibras “A alfa 2” (alfa tônica) - Freqüência tetânica de 20 a 30Hz - Fadiga tardia - Capilaridade ótima - Chamadas de fibras estáticas ou musculares - Filogeneticamente velha - Menor quantidade de ATPase - Musculatura estática B) Fásicas - Fibras brancas - Inervadas por fibras “A alfa 1” (alfa fásica) - Freqüência tetânica de 50 a 150Hz - Fadiga rápida (tetânica) - Capilaridade pobre - Chamadas de fibras rápidas ou contração rápida - Filogeneticamente jovem - Maior quantidade de ATPase - Musculatura dinâmica COMPORTAMENTO CLÍNICO DA MUSCULATURA A) Musculatura pálida (A) É a principal responsável por flacidez e perda de tônus. Cansa-se com facilidade e não tolera contrações prolongadas. Só é trabalhada com exercícios extenuantes e realizados numa freqüência muito rápida. Assim, costuma ser a primeira a se atrofiar. Em geral, as fibras de contração rápida são ativadas nas atividades explosivas e rápidas, assim como em outras contrações musculares vigorosas, que dependem quase que inteiramente do metabolismo anaeróbico para a produção de energia. As capacidades metabólicas e contráteis dessas fibras são igualmente importantes nos desportos com paradas e arranques e mudanças de ritmo tipo basquete ou hóquei de campo, que às vezes necessitam de energia rápida que somente as vias metabólicas anaeróbicas podem fornecer. Possui rápida velocidade de contração, entre 60 e 110 microssegundos, mas com fadigabilidade precoce. B) Musculatura vermelha (C) Praticamente não necessita ser trabalhada. Basta ficar de pé para exercitá-la (musculatura estática). Resistente e dinâmica, suporta intensa atividade e tem grande capacidade de contração, o que permite, aliás, a movimentação de todo o corpo. As fibras de contração lenta contêm mitocôndrias relativamente volumosas e numerosas e é essa concentração de mitocôndrias, combinada com os altos níveis de mioglobina, que empresta às fibras de concentração lenta sua pigmentação vermelha característica. Existe uma alta concentração de enzimas mitocondriais necessárias para sustentar o metabolismo aeróbico (oxidativo). Assim sendo, essas fibras são resistentes à fadiga e bem apropriadas para o exercício aeróbico prolongado. Possui lenta velocidade de contração, entre 50 e 80 microssegundos, mas com fadigabilidade tardia. OBS.: 1) As unidades motoras tônicas são ativadas primeiramente ao se produzir um movimento e seu potencial de ação está em torno de 70mV; 2) As unidades motoras fásicas são ativadas quando o movimento requer um esforço suplementar e seu potencial de ação está em torno de 90mV; 3) O neurônio “A alfa 1” tem um axônio mais grosso, conseqüentemente sua velocidade condutora é maior. Isso é muito importante para as fibras musculares fásicas, pois realizam uma força de explosão de curto prazo, adicionam força ao movimento vigoroso e são as primeiras a entrarem em atividade quando se exige uma reação inesperada e rápida do músculo; 4) Quando uma pessoa se exercita com níveis aeróbicos quase máximos, como na corrida de meia distância ou na natação ou, ainda, nos desportos tipo basquete, hóquei de campo ou futebol, que exigem uma mistura de energia aeróbica e anaeróbica, são ativados ambos os tipos de fibras musculares. TENSÃO TETÂNICA MÁXIMA É o estado de contração máxima da musculatura. Quanto maior a velocidade de contração da musculatura, maior a tensão tetânica que ela vai atingir, ou seja, o músculo que tem velocidade de condução mais rápida pode atingir uma tensão tetânica máxima superior, porém ele não consegue manter essa tensão por muito tempo. PLASTICIDADE DO TECIDO CONJUNTIVO MUSCULAR Estímulos elétricos sobre os motoneurônios mudaram as características de algumas fibras fásicas que passaram a agir como fibras tônicas ou vice-versa, ou seja, interferindo sobre os motoneurônios pode-se interferir sobre as fibras musculares. Em geral, a transformação de fibras musculares fásicas em tônicas transcorre com maior facilidade do que o inverso. A partir daí, houve facilidade de transformação de fibras fásicas em tônicas através de mudanças em seus potenciais. OBS.: Essa mudança nas características bioquímico-fisiológicas das fibras musculares pode ocorrer também através da atividade muscular intensa (treinamento) e talvez da inatividade, pois a estrutura da fibra muscular adapta-se para a função como o músculo é funcionalmente usado. COMPOSIÇÃO DE FIBRAS MUSCULARES - Gastrocnêmio – 46,9 a 56,9% de fibras tônicas - Glúteos – 41,2 a 71,5% de fibras tônicas - Sóleo – 69,8 a 100% de fibras tônicas - Tíbial anterior – 56,6 a 80,5% de fibras tônicas - Ílio-psoas – 37 a 60,9% de fibras tônicas - Vasto medial – 53,5 a 79,8 de fibras tônicas MODIFICAÇÃO NA COMPOSIÇÃO MUSCULAR - Freqüência baixa – 20 a 30Hz – boa estimulação para transformação de fibras fásicas em tônicas - Freqüência alta – 150Hz – boa estimulação para transformação de fibras tônicas em fásicas OBS.: Mudanças que podem ocorrer com a utilização da corrente russa: - mudança na capilaridade - mudança na característica de resposta do motoneurônio - redução na velocidade de condução - aumento da excitabilidade CONCLUSÃO Dependendo da freqüência adotada na estimulação, as fibras fásicas podem adotar o comportamento e as características de fibras tônicas e isso pode ser mantido se se mantiver a estimulação e a função do músculo. CARACTERÍSTICAS DA CORRENTE RUSSA Esse tipo de corrente foi construída exatamente com base nos tipos musculares existentes (tônicos e fásicos). É uma corrente alternada, com freqüência entre 2500 e 5000Hz (média freqüência). Permite o uso de amperagem elevada (acima de 100mA), pois é uma corrente de média freqüência, ou seja, mais agradável, e não possui efeitos polares sobre a pele. ESPECIFICAÇÕES DA CORRENTE RUSSA (podem variar de acordo com o tipo/fabricação do aparelho) - Freqüência portadora – 2500Hz - Porcentagem do ciclo – 20 – 33 – 50% OBS.: Quanto maior a porcentagem da corrente dentro do ciclo, mais agressiva ou com maior intensidade o paciente sentirá a corrente. - Freqüência de modulação – 0 a 150Hz OBS.: A modulação da freqüência obedecerá a característica da fibra (fásica ou tônica) e a porcentagem do ciclo obedecerá a situação do paciente. - Intensidade – a máxima suportável - Tempo de subida – dois microssegundos - Tempo de contração – zero a 30 segundos - Tempo de descida – um microssegundo - Tempo de repouso – três a 30 segundos (não há concentração, não passa corrente) UTILIZAÇÕES TERAPÊUTICAS 1) Incremento da força muscular 2) Modificação do tecido muscular 3) Melhoria da estabilidade articular 4) Melhoria do rendimento físico em esporte de alto nível 5) Manutenção da qualidade e quantidade do tecido muscular 6) Recuperação da sensação da contração nos casos de perda de sinestesia 7) Aumento da circulação sangüínea no músculo OBS.: 1) Comparando-se a estimulação da musculatura com a utilização da corrente russa e o FES, no tocante ao fortalecimento muscular, observou-se que a estimulação com a corrente russa era mais efetiva, pois, por ser de média freqüência, a corrente penetra mais no tecido muscular, estimulando maior número de fibras musculares que o FES. 2) Utilizando-se a estimulação elétrica, o fortalecimento muscular acontece artificialmente. A força obtida desse modo não é funcional e será perdida logo, se a musculatura não for usada. Assim, o fortalecimento de músculos com corrente elétrica deve ser combinado com treinamento da função específica do músculo. VANTAGENS - Consegue-se ativar 30 a 40% a mais das unidades motoras com a corrente russa do que com exercícios comuns e tratamentos convencionais. - O aparelho consegue trabalhar toda a musculatura, inclusive zonas consideradas difíceis de serem atingidas com a eletroestimulação convencional, como os glúteos e o retoabdominal. - Melhora em curto prazo - Melhora da estabilidade articular durante a fase de imobilização SELEÇÃO DO TIPO DA CORRENTE Parâmetros a serem seguidos: a) Tipo de músculo a ser tratado b) Exigir o máximo em todas as fases do tratamento c) O tipo de corrente deve ser o mais agradável possível. d) O músculo que se vai trabalhar deve estar normal e o nervo motor intacto. e) Evitar, dentro do possível, a adaptação (acomodação) do nervo motor. OBS.: Não são aconselháveis aplicações de longa duração, pois, por ser uma corrente de média freqüência, a partir de determinado momento inibirá a fibra motora por adaptação (acomodação). O ideal é de 15 a 20min apenas por sessão. MODIFICAÇÃO NA COMPOSIÇÃO DA FIBRA MUSCULAR Tem-se constatado que a composição das fibras musculares modifica-se ao serem expostas a um período prolongado de excitação produzida por corrente elétrica. Essa modificação depende principalmente da freqüência com que se despolariza o nervo motor por meio de corrente elétrica. Na maioria dos casos, reduz-se a velocidade de contração das células musculares. Com essa modificação, a fibra muscular adquire a função ou a característica de fibra tônica, o que nem sempre é desejado, principalmente quando se necessita da função dinâmica do músculo. A modificação é reversível desde que se passe a trabalhar esses músculos com funções mais dinâmicas. Em linhas gerais, pode-se dizer que: - Para trabalhar um músculo com função postural ou para que esse músculo tenha um trabalho mais estético (musculatura estática - fibras tônicas), é necessário usar uma freqüência mais baixa, na ordem de 20 a 30Hz. Isso garante o avermelhamento das fibras em questão; - Se se desejar que esse músculo tenha ou realize função mais dinâmica (fibras pálidas), é necessário que seja usada uma freqüência mais alta, na ordem de 50 a 150Hz. Isso garante que as fibras musculares se tornem brancas. A ação da corrente russa na musculatura ainda permite: - fortalecimento do músculo sem que produza modificação na composição da fibra muscular - fortalecimento do músculo com o objetivo de modificar a composição da fibra muscular - excitação subliminar prolongada para modificar a composição da fibra muscular, sem fortalecimento do músculo. RISCOS TERAPÊUTICOS - Evitar dor muscular - Cuidado com a amplitude articular nas contrações isotônicas nos casos de bloqueio articular - Certificar-se de que não há lesão em músculo, tendão, ligamento e fáscia - Modificações não desejadas na composição da fibra muscular INDICAÇÕES - Fortalecimento em condições patológicas - Fortalecimento no esporte de alto nível, tais como: a) aumento da capacidade sprint b) aumento da capacidade de salto c) aumento da capacidade de resistência - Estabilização de coluna vertebral - Estabilização de articulações - Incontinência esfincteriana - Estética CONTRA-INDICAÇÕES - Lesões musculares, tendinosas e ligamentares - Inflamações articulares em fase aguda - Fraturas não consolidadas - Espasticidade - Miopatias - Lesão nervosa periférica "

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